segunda-feira, 16 de novembro de 2009
domingo, 8 de novembro de 2009
Breathing earth!
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Prémio Mo Ibrahim
O prémio é considerável: 5 milhões de dólares e ainda uma quantia de 200.000 dólares anuais para toda a vida. Este ano, contudo, não houve nenhum vencedor. O Comité decidiu não atribuir o prémio ao nomeado John Agyekum Kufuor, antigo presidente do Gana, por este ser suspeito de corrupção.
Esta notícia fez-me recordar o post "Eleições e... a Democracia?" escrito pelo meu colega André no seu blogue Internacionalizzando. O problema da eternização dos líderes nos seus cargos e da falta de renovação na política não é exclusivo do continente africano, mas será que esta iniciativa poderá ser um incentivo à democracia? E será que poderia ter sucesso noutras áreas do mundo?
Deixo à vossa consideração.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Para onde vao as tribos?
Pelo Médio Oriente...
domingo, 18 de outubro de 2009
Neoconservadores ou neofundamentalistas?
Aqui, subscrevo na íntegra a reflexão de Tzvetan Todorov no seu conjunto de ensaios sobre A Nova Desordem Mundial (Asa, 2006): na verdade, os “neoconservadores” são tudo menos “conservadores”. Passo a citar:
«Porém, o termo «conservador» não tem aqui qualquer cabimento, como aliás observou um deles: «Os neoconservadores não pretendem de modo algum defender a ordem das coisas tal como existe, assente na hierarquia, na tradição e numa visão pessimista da natureza humana» (Francis Fukuyama, no Wall Street Journal de 24 de Dezembro de 2002). Esses pensadores acreditam na possibilidade de aperfeiçoar de modo radical o homem e a sociedade e estão activamente empenhados nesse processo. Mas neste caso não merecem o epíteto de conservadores (…). Uma expressão mais justa para os designar seria neofundamentalistas: fundamentalistas porque se reclamam de um Bem absoluto que querem impor a todos; e neo porque esse Bem é constituído já não por Deus, mas pelos valores da democracia liberal.
Nenhum destes dois ingredientes é verdadeiramente novo; em contrapartida, a sua combinação é inédita. Os fundamentalistas acreditam nos valores absolutos, pelo que rejeitam o relativismo envolvente (…). Não obstante, não sendo conservadores, querem propagar o seu ideal no mundo pela força. Desta perspectiva, é sobretudo o espírito da «revolução permanente» que evocam. Há que buscar as origens desta vertente do seu pensamento na esquerda revolucionária anti-estalinista. (…)
O pensamento que anima este aspecto da política externa americana não é, pois, conservador, do mesmo modo que não é liberal (na medida em que se impõe a unidade em lugar de deixar subsistir a diversidade).»
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Entre Marte e Vénus

Conhecendo-se o percurso intelectual e político de Robert Kagan, marcado pela proximidade aos círculos neoconservadores, será eventualmente possível ler a obra como uma tentativa de legitimação da doutrina estratégica de Bush. Contudo, penso que vale mais a pena confrontar directamente a exposição de Kagan, em vez de entrar pela especulação em torno de possíveis segundas intenções. A tese central de Paradise & Power é que chegamos a um ponto em que norte-americanos e europeus deixaram de partilhar a mesma visão do mundo – ou, se quisermos ser mais precisos, a mesma cultura estratégica. Os norte-americanos são de Marte; os europeus de Vénus. Ou seja, enquanto os americanos continuam a assumir a power politics como o paradigma fundamental das relações internacionais e se assumem a si próprios como um actor num mundo onde ainda reina a anarquia hobbesiana, os europeus parecem caminhar já para lá da power politics, em direcção a um «paraíso pós-moderno» corporizado pela União Europeia que visa realizar o ideal kantiano da paz perpétua. As implicações desta divergência são enormes. Se de um lado existe um forte poder militar e a disposição para o utilizar, do outro cresce a dúvida em relação à eficácia e à moralidade desse tipo de poder. Se uns atribuem um valor meramente instrumental a tratados e organizações internacionais, os outros vêem neles essenciais fóruns de negociação diplomática e expressões de um desejável multilateralismo.
Quais as razões para esta divisão de caminhos? Certamente, existe na Europa a memória histórica de séculos de sangrenta balança de poderes. Por outro lado, o processo de construção europeia, com a sua lógica própria, veio mudar algumas sensibilidades e também provocar um certo alheamento europeu relativamente às questões internacionais. Contudo, de acordo com Kagan, a principal razão reside no crescente fosso de poder – militar, acrescente-se – entre EUA e Europa. Isso acabou por provocar, numa perspectiva histórica, uma curiosa inversão. Se, no início da sua história, os EUA, numa posição de relativa fraqueza, valorizavam a legalidade internacional, a diplomacia e a negociação, hoje, com uma hegemonia incontestada, são os primeiros a recorrer, sempre que necessário, à acção unilateral. Com os europeus, ocorreu o processo inverso. E se as potências identificam e avaliam ameaças à sua segurança diferentemente, consoante o seu poder ou fraqueza relativos, então é natural que americanos e europeus dificilmente se entendam no contexto actual. É esta, segundo Kagan, a verdadeira natureza do problema transatlântico e também a razão pela qual ele é provavelmente inultrapassável, pondo em causa a coesão do «ocidente».
A análise de Kagan é inegavelmente perspicaz e sempre intelectualmente honesta. Mesmo que, na questão do Iraque ou noutras, estejamos, como eu estou, longe das posições neoconservadoras, é possível subscrever grande parte da argumentação de Kagan. Isto porque há uma questão que permanece sem resposta. Face aos novos desafios na cena internacional, qual a postura mais apropriada? As estratégias «soft» dos europeus ou a abordagem «hard» americana? Depreende-se que Kagan confia mais na segunda, mas o seu esforço argumentativo não é direccionado para essa questão[1]. Em última análise, só o tempo poderá comprovar ou desmentir a previsão de Kagan de turbulência constante nas relações transatlânticas. A atmosfera parece bastante mais desanuviada desde a eleição de Obama, mas ainda é cedo para extrair conclusões. E depois, claro, podemos interrogarmo-nos sobre a centralidade, no quadro actual, dessas relações. O que vale, actualmente, a coesão do «ocidente» (entenda-se aqui o conceito na sua acepção estritamente geopolítica), quando o bloco opositor já desapareceu? Esta interrogação está já para além do âmbito da análise de Kagan. Contudo, importa tê-la em mente para percebermos até que ponto, apesar de tudo, o autor deve ainda muito a uma economia mental herdada da Guerra Fria.
[1] Note-se que, em relação ao Iraque, Kagan parte sempre do princípio que o regime de Saddam possui armas de destruição maciça. Hoje, temos razões fortes para rejeitar essa hipótese.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Histórias
Deixo-vos o link: http://www.youtube.com/watch?v=518XP8prwZo
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
sábado, 3 de outubro de 2009
A Irlanda e o Nim

Sabemos que a Irlanda foi o único dos 27 (por imposição constitucional) a utilizar o referendo como forma de legitimação deste tratado internacional. Apesar de ter noção da importância deste texto constitucional, sobre o qual publicarei um pequeno artigo brevemente, tenho algumas dúvidas sobre a necessidade de referendo para a aprovação do dito tratado. É uma questão de soberania, é certo; envolvem-se interesses nacionais, correcto. Contudo, veja-se o que se passou na Irlanda e, isso sim, considero deplorável. Os irlandeses recusam o tratado – com a ameaça do fantasma da cedência de soberania, o aborto à espreita, etc etc. – e toca a fazer novo referendo, um ano depois, a ver se é desta.
Enquanto europeísta convicto, lamento sinceramente que os líderes europeus dêem razões aos cépticos para questionarem a legitimidade democrática da União; mas efectivamente é o que eles parecem fazer com demasiada frequência. Vá lá que desta vez os irlandeses estavam assustados com a crise, ponderaram a possibilidade de receber mais fundos em troca de uma simples cruz num boletim de voto e foram avisados de que o aborto não seria legalizado com a ratificação do tratado: mais 5% dos eleitores foram às urnas e desses 67,1% votou “sim”.
Agora aguarda-se que a Polónia e a República Checa ratifiquem o tratado, que já se atrasou uns meses em relação ao desejado pelos eurocratas em Lisboa aquando da assinatura do Tratado e a Europa sobe novamente à ribalta do palco internacional, como diz o Süddeutsche Zeitung. Resta-nos agora esperar para ver se realmente a adopção do Tratado trará o reforço institucional que a União Europeia clama como condição sine qua non para que esta desempenhe o papel de uma potência mundial, interventiva e com influência.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Papel químico
Merkel, a já chanceler alemã, saiu vitoriosa. Sócrates, o já primeiro-

Contudo, os dois partidos que mantiveram a maioria relativa, fizeram-no com uma descida. De 2005 para 2009, a CDU baixou quase um ponto e meio percentual, enquanto que o PS teve que aguentar com uma descida na ronda dos 8,5%. Ambos desceram. Mas não foram os únicos: com eles, baixaram também, grosso modo, os partidos maioritários da oposição, ou seja, o SPD e o PSD – com rigor, o partido social-democrata português não viu o número de eleitores diminuir, sentindo até um pequeno aumento de o,3%, o que não era expectável de um partido da oposição. Na mesma lógica de pensamento, o SPD sofreu uma queda de quase 10 pontos relativamente a 2005, o que aponta para um resultado desastroso do partido do ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros.
A questão que se coloca então é para onde se terão desviado os votos? Naturalmente, houve uma fuga dos chamados “votos de descontentamento” para partidos mais pequenos e emergentes. Mais uma vez, isto aconteceu em ambos os países, onde se nota uma confluência das curvas – os maioritários a descerem e os pequenos partidos a subirem na preferência do eleitorado. Die Linke passa de 8,7% para 11,9%; o BE aumenta de 6,4%, quase alcançando a fasquia dos 10%. O FDP, com quem Merkel pretende coligar, transformou os seus 9,8% para 14,6%; o CDS português ultrapassa os 10%, subindo 3,22 pontos percentuais face às últimas legislativas. Poderia ainda nomear os exemplos do PCP ou dos Die Grüne para esta listagem.
Assim, a par desta tendência de manutenção do status quo, que não se altera bruscamente, como é óbvio, tanto Portugal como a Alemanha vivem este movimento de emergência e consolidação de partidos mais pequenos, com uma maior tradição nesta última. E assim dois países se preparam para continuar a lutar contra a crise.
As outras eleições
domingo, 27 de setembro de 2009
Africa e o Tribalismo
Peco desculpa pela ausencia de acentos e outros caracteres. E que este teclado e africano.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Ainda o terrorismo...

domingo, 20 de setembro de 2009
Terrorismo - o que escondem as indefenições de um conceito?
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Terrorismo & Identidade

“O uso da força (…) é efectivamente o meio privilegiado de marcar as fronteiras sociais; na sua ausência, as identidades arriscam-se sempre a tornarem-se vagas. O apartheid sul-africano marcou o limite absurdo desta lógica.”(Crowley, 2000: 60)
Efectivamente, são estas as oposições que legitimam as acções mais cruéis, na tentativa de angariar para o seu grupo identitário a superioridade pretendida – aquilo que em Relações Internacionais se conhece como o “dilema de segurança”, ou seja: eu tento garantir a segurança desejada para o meu grupo atacando os demais para atingir a supremacia necessária à inviabilização de qualquer tentativa dos outros de me derrotarem.
“a crença de que só monopolizando eu próprio o poder, poderei garantir que ninguém abuse dele à minha custa.” (Crowley, 2000: 60)
Este mesmo autor identifica como “ilusão identitária” esta situação em que os indivíduos consideram que as crenças e outras características da sua identidade são em si mesmas as chaves de interpretação válidas para todas as situações. Para a Al-Qaeda, os “ocidentais infiéis”, sejam eles quem forem, fazem tanto parte do problema como da solução; o e mesmo para outros grupos, como os Tigre Tamil do Sri Lanka, por exemplo, onde as construções históricas se concretizam, tornando-se realidade para eles. No caso dos terrorismos separatistas (caso flagrante da ETA no País Basco), esta oposição e obsessão pela pertença a grupos identitários concretizam-se na vontade de delimitação física, geográfica e política entre o “nós” e a ameaça dos “outros”.
Não é minha intenção menosprezar a pertença a grupos, nem tampouco a construção da identidade individual no seio desses mesmos grupos e com base na oposição àquilo que nos é estranho; é, isso sim, alertar para a complexidade do fenómeno do terrorismo e para uma das suas vertentes, que é a incorporação de tal forma profunda e radical, que, mais do que ver no outro a diferença, vê no outro uma ameaça à sua posição, à sobrevivência da sua perspectiva.
O “Ocidente” é muito culpado, com as suas tentativas culturais (e outras) hegemónicas de um mundo perfeito e desejável para todos, pronto e embalado para exportar. Contudo, o fundamental é o reconhecimento da relatividade cultural, do valor na diferença, do respeito pelo estranho. O desafio das democracias, consideradas abertas e receptivas, está nisso mesmo: em conciliar identidades, através do diálogo e da aceitação, num mosaico colorido que é o nosso mundo.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Coreia do Norte: um problema nuclear?
Quase meio século de Guerra Fria terá servido para nos demonstrar que armas nucleares nas mãos de estados rivais não são para ser utilizadas. Ou melhor, são para ser utilizadas, mas não literalmente. O que a Coreia do Norte procura com estas especulações em torno do seu programa nuclear é ganhar alguma margem de manobra na mesa de negociações, em face das sanções que lhe foram aplicadas pela comunidade internacional. Isto indica que os efeitos das sanções estão a fazer-se sentir – muito certamente, com consequências humanitárias gravíssimas –, pelo que este anúncio de Pyongyang é mais um sinal de fraqueza do que propriamente de força. É que, por muito pouco que se saiba acerca dos líderes norte-coreanos, o seu comportamento não indicia que sejam psicopatas com tendências suicidárias, mas sim déspotas que querem preservar o poder a todo o custo. Nesse sentido, creio que o nuclear só poderá ser encarado como uma arma diplomática.
Perante este cenário, apresentam-se três alternativas. A primeira – péssima – seria tomada por aqueles que, dormindo descansados com a quantidade de estados soberanos que hoje possuem armas nucleares (Estados Unidos, Rússia, China, Paquistão, Israel, Índia, etc.), não toleram sequer a hipótese de a Coreia do Norte as possuir. A solução seria, pois, a eliminação, pela força, do actual regime norte-coreano. Tal opção teria consequências imprevisíveis – e se a Coreia do Norte possuir, já hoje, capacidade militar nuclear? – e outras previsivelmente drásticas: mais uma experiência, análoga ao Iraque e ao Afeganistão, de construção da “democracia” a partir do grau zero da destruição. A segunda alternativa veria no desmantelamento do programa nuclear norte-coreano não um fim em si, mas um meio para algo mais ambicioso: a integração da Coreia do Norte na comunidade internacional. Nessa perspectiva, o caminho teria de passar por um levantamento gradual das sanções, sujeito à apresentação de “sinais” favoráveis da parte de Pyongyang. Esta seria certamente a opção que mais depressa aliviaria as condições humanitárias no interior da Coreia do Norte. Contudo, tendo em conta a natureza do regime, parece-me irrealista. Resta-nos uma terceira hipótese: a tentativa de desmantelamento, sem mais ambições integradoras, pela via diplomática. O sucesso não estaria garantido à partida, a paciência e a subtileza no reforçar ou afrouxar das sanções seriam a chave de um processo necessariamente moroso, mas, tudo somado, esta alternativa parece ser mais prometedora. Estará o Conselho de Segurança à altura?
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Férias!

A todos, umas óptimas férias e até Setembro!
A equipa do Mundo em Revista
Erasmus Mundus
O projecto Euro Brazilian Windows II (EBW II) é um consórcio de Instituições Europeias e Brasileiras na área do Ensino Superior; o projecto Mundus 17 é um consórcio de Instituições Europeias, Brasileiras, Paraguaias e Uruguaias na área do Ensino Superior. Ambos os Projectos são financiados pela Comissão Europeia através do Programa Erasmus Mundus (Acção 2), que é um dos programa de cooperação da União Europeia com países terceiros.
O projecto EBWII é dirigido a estudantes portugueses de licenciatura ou doutoramento, a investigadores de pós-doutoramento e a docentes europeus interessados em realizar uma mobilidade nas instituições parceiras no Brasil, enquanto que o projecto Mundus17 abrange também o Paraguai e Uruguai.
Ambos os projectos contemplam o pagamento de uma bolsa mensal, dos custos da viagem para o país seleccionado, seguro de saúde, de viagem e de acidentes pessoais. O Programa prevê a isenção de taxas de matrícula para mobilidades com duração inferior a 10 meses.
Para serem considerados elegíveis para a mobilidade, os candidatos europeus devem satisfazer os seguintes critérios:
• Ter conhecimentos suficientes da língua de ensino do país a que se candidata (espanhol – aplicável apenas para as mobilidades no Paraguai e no Uruguai);
• Ter nacionalidade portuguesa ou de um país europeu;
• No caso da mobilidade de pós-doutoramento, ter obtido o seu doutoramento nos últimos dois anos e ter o apoio da Universidade do Porto;
• Os estudantes de licenciatura devem ter concluído com sucesso pelo menos um ano de estudos na Universidade do Porto;
• Estar registado ou vinculado à Universidade do Porto;
Os projectos EBWII e Mundus17 prevêem que haja mobilidade de determinadas áreas de estudo, nomeadamente:
EBWII:
- área 05 (Educação, Formação de Professores) - para estudantes de licenciatura
- área 06 (Engenharia, Tecnologia) - para estudantes de licenciatura, doutoramento, pós-doutoramento e pessoal docente.
- área 14 (Ciências Sociais) - para estudantes de licenciatura
Mundus17: (para estudantes de licenciatura, doutoramento, pós-doutoramento e pessoal docente)
- área 01 (Ciências Agrárias)
- área 05 (Educação, Formação de Professores)
- área 06 (Engenharia, Tecnologia)
- área 12 (Ciências Médicas)
- área 13 (Ciências Naturais)
- área 14 (Ciências Sociais)
Para mais informações, incluindo as instituições a que se pode candidatar, a documentação necessária para a candidatura, os prazos e os critérios de selecção, deverá consultar os respectivos websites em http://www.ebw2.up.pt/ e http://www.mundus17.up.pt/
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Programa para a Internacionalização das Ciências Sociais
Todos os investigadores portugueses e estrangeiros, que trabalhem em instituições portuguesas e que tenham idade inferior a 40 anos em 30 de Setembro de 2009 (data limite do concurso) podem participar. Serão admitidos neste concurso artigos publicados, ou aceites para a publicação, em revistas internacionais de referência entre os anos de 2006 e 2008.
A candidatura deverá ser submitida online em www.gulbenkian.pt
Um Júri nomeado para o efeito atribuirá duas distinções no valor de 5.000 € cada.
Para mais informações, por favor, consulte o regulamento do concurso em http://www.gulbenkian.pt/media/files/fundacao/ciencia/Regulamento-Programa_para_a_Internacionalizacao_das_Ciencias_Sociais.pdf
PEPAL - Programa de Estágios Profissionais na Administração Local
Os estágios profissionais organizados no âmbito do PEPAL destinam-se a jovens com idade compreendida entre os 18 e os 30 anos (à data da apresentação da candidatura), possuidores de licenciatura ou bacharelato (níveis de qualificação V e IV) ou habilitados com curso de qualificação profissional (nível III), recém-saídos dos sistemas de educação e formação à procura do primeiro emprego ou desempregados à procura de novo emprego que não tenham frequentado o PEPAP - Programa de Estágios Profissionais na Administração Pública Central.
Têm prioridade no acesso ao PEPAL os jovens à procura de emprego que, nessa qualidade, se encontrem inscritos há mais de três meses nos centros de emprego, sendo da responsabilidade do candidato informar a entidade onde se realiza o estágio da prioridade.
Para mais informações, por favor, consulte o site http://www.pepal.gov.pt/pepal/
Relembro que este não se encontra actualizado, devendo tal acontecer no princípio de Agosto.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
O grande desafio de Obama
O resultado é, pois, incerto, mas uma coisa é certa: a retórica de mudança de Obama, afinal, não era só retórica. E um eventual triunfo de uma reforma que institua um sistema de saúde público, de cobertura universal, nos EUA só não será aproveitado como impulso positivo pela social-democracia europeia, se esta continuar presa a lideranças incapazes.
terça-feira, 21 de julho de 2009
Paradoxos da (pós-)modernidade
"Hoje, sentimos como uma ameaça para a cultura aqueles que têm uma relação imediata e viva com a sua própria cultura, sem qualquer distanciamento em relação a ela. Lembremo-nos da indignação pública quando, há três anos, os talibãs do Afeganistão dinamitaram as antigas estátuas de Buda em Bamiyan: apesar de nenhum de nós, ocidentais esclarecidos, acreditar na divindade de Buda, sentimo-nos indignados pelo facto de os muçulmanos talibãs não terem mostrado nenhum respeito pelo «património cultural» do seu próprio país e de toda a humanidade. Em vez de crerem através dos outros, como todas as pessoas cultas, foi-nos dada a prova de que estavam completamente imersos na crença da sua própria religião e que, consequentemente, não mostravam grande sensibilidade pelo valor cultural dos monumentos das outras religiões – para eles, as estátuas de Buda não eram mais do que falsos ídolos e não «tesouros culturais»"
Slavoj Žižek, A Marioneta e o Anão (Relógio de Água, 2006)
terça-feira, 14 de julho de 2009
Irão - documentário
domingo, 12 de julho de 2009
Revista "Perspectiva: Reflexões sobre a Temática Internacional"
sábado, 11 de julho de 2009
Cimeiras do G8 cada vez mais criticadas

Leiam este artigo, está muito bem escrito...
"Vielleicht ist das alles nicht so wichtig. Aber wenn es jetzt wirklich darum geht, die Welt aus einer historischen Wirtschaftskrise zu führen und vor einer Klimakatastrophe zu retten, waren die drei Tage von L’Aquila eine einzige Pleite. Mit einer Weltregierung hatte das jedenfalls nichts zu tun. Silvio Berlusconi hat es verstanden, die Führer der wichtigsten Industrie- und Schwellenländer zu Statisten einer Inszenierung zu machen, die von seinen Poolpartys ablenkt und politische Potenz suggeriert.
Der Welt hatte der G-8-Gipfel nichts zu bieten. Die Beschlüsse zum Klimawandel sind eine Kapitulation, sonst nichts. Was würde man denn einem Alkoholiker sagen, der freudig ankündigt, er werde spätestens in 41 Jahren trocken sein – und dabei eine Flasche Schnaps leert? Nicht viel anders hielten es aber die acht wichtigsten Industriestaaten in L’Aquila. Bis zum Jahr 2050 wollen sie erreichen, dass der Ausstoß von Kohlendioxid weltweit halbiert wird, und sie selbst wollen sogar 80 Prozent schaffen. Aber von mittel- oder gar kurzfristigen Zielen haben sie sich verabschiedet. Und das langfristige Ziel wird nicht mal von allen geteilt.
Ein anderes Beispiel für das Versagen der G 8 ist die Hilfe für Afrika. Vor vier Jahren haben sie beim Gipfel von Gleneagles versprochen, die Hilfe für den ärmsten Kontinent bis zum Jahr 2010 auf jährlich 50 Milliarden Dollar zu verdoppeln. In L’Aquila haben sie diesen Beschluss bekräftigt, obwohl die meisten von ihnen bisher nicht annähernd in die Nähe der erforderlichen Beträge gekommen sind. Hinzu kommt, dass die schlichte Wiederholung des Zieles in Wahrheit eine massive Kürzung ist: Der Dollar hat gegenüber dem Euro seit Gleneagles ein Siebtel seines Werts verloren. So leidet Afrika unter der globalen Wirtschaftskrise in doppelter Hinsicht, direkt und indirekt.
Dafür haben die G 8 nun ein neues Ziel: Ein Hilfsprogramm soll in den kommenden drei Jahren Bauern in armen Ländern mit 20 Milliarden Dollar helfen. Dagegen ist nichts zu sagen. Nur könnte einem vielleicht auffallen, dass die US-Regierung allein zur Rettung eines einzigen Unternehmens – General Motors – das Dreifache dieser Summe mobilisiert. Oder dass all die Hilfe überflüssig wäre, wenn sich die Welt endlich, endlich auf ein Handelsabkommen einigte. In L’Aquila wurde wieder einmal die gute Absicht formuliert; bisher scheiterte sie stets an vielfältigen nationalen Interessen.
L’Aquila war vermutlich das letzte Treffen der G 8, das wenigstens den Anspruch hatte, ein Gipfel zu sein, nicht nur protokollarisch, sondern auch inhaltlich. Angela Merkel hat deutlich gemacht, dass sie G-8-Gipfel künftig als Vorbesprechungen betrachtet. Ein Format, das 1975 so schön als informeller Weltwirtschaftsgipfel am Kamin von Schloss Rambouillet begann, hat sich überholt. Eine Ironie am Rande ist, dass ausgerechnet die prekäre Lage der Weltwirtschaft in L’Aquila nahezu ausgeklammert wurde.
Aber das neue, größere Format G 20, das die Schwellenländer aufnimmt, kann nichts besser. Nach den zwei ersten Weltfinanzgipfeln in Washington und London gibt es einen Haufen von Absichtserklärungen, aber nicht viel mehr. Die G 20 haben keine Legitimation und keinen Vorsitzenden – man kann ihnen nicht mal einen Brief schreiben. So muss man den nächsten Gipfel im September in Pittsburgh wohl mit Skepsis sehen. Mag sein, dass alles gut wird. Aber wahrscheinlich geht an den Vereinten Nationen und der Europäischen Union, so schwerfällig sie sein mögen, kein Weg vorbei. Vermeintliche Abkürzungen kosten häufig nur Zeit.” (Moritz Döbler (2009), “Der Letzte Gipfel”. ZEIT Online, 11 de Julho de 2009)
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Xinjiang: um outro Tibete
Saber o que se está a passar, ao certo, em Xinjiang é muito difícil, tendo em conta a ausência de liberdade de imprensa na China. Em todo o caso, o quadro geral é suficientemente claro: trata-se do exacerbar de tensões de longa data entre a maioria uigure, de ascendência turcomena, e os chineses de etnia han. São as consequências expectáveis de um processo de construção do estado-nação conduzido com punho de ferro, primeiro pela República do Kuomintang e depois pela brutalidade de Mao.
A situação é, pois, comparável à do Tibete, mas talvez encerre em si um potencial de conflito superior. Por um lado, porque a província de Xinjiang, mais extensa e populosa que o Tibete, apresenta uma maior diversidade étnica. Por outro lado, ao contrário do Tibete, trata-se de uma região rica em recursos naturais (mineração, gás natural e produção agrícola) e de elevada importância estratégica, como via de acesso da China à Ásia Central.
E enfim, não nos podemos esquecer que o pano de fundo desta violência étnica é a crise económica global e os seus efeitos no crescimento chinês. Não é de estranhar que, conforme foi noticiado, os tumultos tenham sido despoletados pela forma como o governo chinês lidou com uma disputa entre trabalhadores uigures e trabalhadores han numa fábrica no Sul do país.
Que a única contestação visível à ditadura chinesa provenha deste tipo de impulsos identitários é algo que, enquanto democrata, me deixa consternado. Isso, contudo, é já uma outra questão.
Saddam Hussein

Porque nem sempre tudo o que parece é...
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Actualidade Internacional
2. O Papa, na sua encíclica social hoje apresentada, defendeu a criação de uma autoridade política mundial, de forma a enfrentar os problemas globais com estruturas e soluções também elas globais. Há uma valorização da cooperação internacional, num contexto de crise, que poderá ser a sua solução, como temos vindo a observar. O Sumo Pontífice adianta ainda que seria desejável o desarmamento integral dos países, a garantia da segurança alimentar e da protecção do ambiente. Questiono-me sobre as suas intenções e a concretização da sua ideia de “regulação dos fluxos migratórios”. Um bom tema para quem quiser dedicar-se às 150 páginas da Encíclica de Bento XVI.
3. No seu primeiro discurso oficial, Ahmadinejad, o “novo” Presidente da República Islâmica do Irão, congratula o país pelas eleições mais livres do mundo. Uma afirmação no mínimo irónica depois de todos os acontecimentos que têm marcado o país desde o acto eleitoral. Repare-se que os confrontos têm-se dado de forma menos intensa graças ao reforço da intervenção policial, que, aliás, encerrou duas universidades para evitar manifestações lá programadas.
O líder iraniano garante, no entanto, que o país entrará numa nova fase, marcada por uma especial atenção ao emprego e à economia – áreas em que Ahmadinejad foi fortemente criticado pela oposição.
4. O Presidente da Costa Rica vai servir como mediador na crise política das Honduras. Tanto Zelaya como Micheletti concordaram com a sugestão de Clinton – na verdade, os EUA garante que pretendem o restabelecimento da paz e democracia no país. Dps tentativa zelaya voltar. Apesar da OEA ter já condenado o golpe de estado e de ter suspenso a participação das Honduras na organização, o Presidente interino não cede e impediu, através das suas Forças Armadas que Zelaya aterrasse no país.
Repare-se que Zelaya é aliado da facção esquerdista de Chávez e, por isso mesmo, os EUA dizem apoiá-lo não pela sua personalidade, mas pela sua democrática eleição e justa representação, como explica a Secretária de Estado, Hillary Clinton.
5. O governo iraquiano baniu todas as visitas organizadas ao túmulo de Saddam Hussein, depois de se aperceber que o local era um ponto de encontro de leais ao condenado líder e que várias escolas organizavam excursões com alunos para visitar o mausoléu do ex-ditador iraquiano.
6. A confusão continua na China. Dois dias depois das manifestações que originaram mais de 150 mortos e 1000 feridos, consideradas já as mais sangrentas de teor étnico na China em décadas, e apesar da presença de milhares de soldados e da polícia na região, o Governo parece incapaz de manter a calma e aliviar as graves tensões. Como resposta aos incidentes, os chineses marcharam pela cidade de Urumqi a cantar o hino e a pedir vingança. Note-se que na região de Xinjiang vivem cerca de 20 milhões de habitantes, que representam 47 grupos étnicos minoritários, sendo que o maior deles, os Uighurs, responsáveis pelos desacatos, conta com uma população de mais de 8 milhões de pessoas. Este povo islâmico da Ásia Central é apontado pelos conterrâneos chineses de estarem ligados, pelas suas intenções separatistas, ao grupo Al-Qaeda. Os especialistas são peremptórios ao afirmar que essas ligação não devem existir e, a existir, seriam muito ténues e sem força para provocar tais desordens. As organizções dos Direitos Humanos criticam a repressão brutal do Governo; os EUA apelam à calma das partes; os interessados por todo o mundo mantêm os olhos postos na China e neste barril de pólvora.
7. A reunião do G8 sobre o ambiente promete. Os EUA estão com uma nova política em relação às responsabilidades ambientais e prometem agir. Os europeus estão contentes com a mudança, como declarou Merkel, mas lamentam que os americanos talvez não estejam muito interessados em limitações de emissões rígidas e numericamente definidas. O mundo acompanhará o G8 em Itália.
sexta-feira, 3 de julho de 2009
A ler
Esta noite sonhei com Mário Lino por Miguel Sousa Tavares in Expresso
Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:
- É sempre assim, esta auto-estrada?
- Assim, como?
- Deserta, magnífica, sem trânsito?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas?
- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura?
- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é?
- Pelos vistos...
Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:
- Mas porque não investem antes no comboio?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê?
- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...
- Estás a brincar comigo!
- Não, estou a falar a sério!
- E o que fizeram a esses incompetentes?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.
Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?
- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária?
- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!
- Pois é.
- E, então?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.
Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...
- Não, não vai ter.
- Não vai? Então, vai ser uma ruína!
- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!
- E vocês não despedem o Governo?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...
- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.
Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada...
- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?
- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?
- Um lago enorme! Extraordinário!
- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena! Deve produzir energia para meio país!
- Praticamente zero.
- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!
- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.
Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:
- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.
Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:
- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!
Individualismo – entre agência e contingência II
O cerne da questão reside na autonomia do social, não redutível à soma dos indivíduos e das suas escolhas. E esse corpo autónomo que é a sociedade, governado por dinâmicas próprias, afecta os destinos individuais, colocando limites ao livre-arbítrio. Porém, afecta-os, e logo desde o início, de forma desigual – há quem seja favorecido e quem seja prejudicado pela circunstância social em que a sorte (ou o azar) ditou que nascesse. Aqui, como é evidente, não tem cabimento apelar para qualquer noção de mérito. Ninguém tem o mérito de ter nascido numa família rica ou o demérito de ter nascido num meio pobre. Assim sendo, qual é o grau de desigualdade à partida aceitável? Por outras palavras, quais são os princípios da justiça social? A meu ver, a resposta mais satisfatória a esta questão foi dada por John Rawls, na sua incontornável “Theory of Justice”.
O que Rawls propõe para chegarmos aos princípios da justiça social é uma experiência intelectual, uma situação hipotética. Imaginemos que os indivíduos que compõem uma dada sociedade se reúnem para estabelecer os princípios de justiça que deviam subjazer às principais instituições sociais (sistema político, organização económica, etc.). Assumindo a racionalidade, em sentido estrito, dos indivíduos, seria de esperar que cada um escolhesse os princípios que mais favorecessem a sua posição social. Ora, acontece que, na posição original proposta por Rawls, ninguém sabe o lugar que ocupa na sociedade, em termos de classe ou status, nem os recursos com que a natureza o dotou (inteligência, força, etc.). Assume-se mesmo que os indivíduos não conhecem as suas concepções do bem e as suas propensões psicológicas. A escolha faz-se, pois, sob um véu de ignorância.
Segundo Rawls, «this ensures that no one is advantaged or disadvantaged in the choice of principles by the outcome of natural chance or the contingency of social circumstances. Since all are similarly situated and no one is able to design principles to favor his particular condition, the principles of justice are the result of a fair agreement or bargain.» Desta forma, elimina-se o peso das condições particulares sobre a decisão, assegurando a universalidade dos princípios escolhidos.
Quais são, então, os princípios que os indivíduos colocados na posição original sob o véu de ignorância escolheriam? Rawls acredita serem dois:
«First: each person is to have an equal right to the most extensive basic liberty compatible with a similar liberty for others.
Second: social and economic inequalities are to be arranged so that they are both (a) reasonably expected to be to everyone’s advantage, and (b) attached to positions and offices open to all.»
O primeiro princípio não é mais do que a clássica defesa das liberdades formais individuais. A grande inovação do pensamento de Rawls reside no segundo, na ideia de que é possível e necessário avaliar a justiça das desigualdades materiais efectivas. Os conceitos indeterminados do segundo princípio (o que significa «everyone’s advantage»?) mereceriam uma análise mais profunda. Mas, o que me importa sublinhar aqui é que os horizontes do individualismo não se esgotam num pensamento solipsista que endeusa a agência individual e ignora ou desvaloriza a contingência social. O individualismo de John Rawls funda-se numa síntese bem mais frutuosa entre agência e contingência, permitindo-nos, sem abdicar da perspectiva individualista, conceber uma justiça social.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Irão - a saga continua

"The massive propaganda of the foreign media, as well as other evidence, proves the interference of the enemies of the Iranian nation who want to take political advantage and darken the pure face of the Islamic republic”
As tensões diplomáticas vão crescendo no entretanto. Elementos da Embaixada inglesa no Irão são detidos, porque acusados de envolvimentos nos distúrbios, e Brown não se conforma com tal exagero iraniano, que considera inaceitável e injustificável, como o próprio adjectiva.
As razões apresentadas pelo ministro iraniano Gholam-Hosein Mohseni Ejei são, no mínimo, discutíveis: “The fact that Iran is stable, calm and secure, they're upset with this,". O facto é que os europeus, cuja “total solidariedade” foi reconhecida pelo Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, olham com desconfiança para a política ofensiva de Teerão. Este desapontamento de que falam vários Ministros dos Negócios Estrangeiros (MNE) culminou, muito recentemente, com o fim das conversações que a UE desenvolvia com o Irão para que este abandonasse as suas pretensões nucleares há já alguns anos, por imposição deste último. Ahmadinejad soube, de forma magistral, utilizar esta desconfiança de ingerência para terminar com estas incómodas conversações que queriam limitar as suas actividades nucleares (mesmo apesar da inflexibilidade que o Irão tinha vindo a mostrar).
Agora, os MNE da UE ponderam a retirada dos seus representantes diplomáticos do país. Custa-me a crer que tal venha a concretizar-se, mas a verdade é que, usando esta situação a seu favor, Ahmadinejad está a conseguir consolidar o seu poder e a vincar a sua posição no contexto internacional, mesmo que optando por esta escalada da tensão diplomática e pelo isolacionismo. Aguardemos.
domingo, 28 de junho de 2009
Hum...
...se se quiser alistar, óptimo para si. Mas ultimamente não temos usado muito os nossos equipamentos. Sabe que na Finlândia o nível de vida é elevado. O exército é uma mera opção de vida, não uma escapatória ou obrigação. Mas olhe, é bom para a comunidade. Nós aqui valorizamos o bem comum. Nunca falta quem se inscreva. Eu até acho demasiado. Mas há dinheiro para tudo, graças a ... nós!
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Prioridades para a União Europeia
Estas e outras questões dominaram a conferência "Prioridades Europeias - da Crise Económica à Crise Energética", organizada em parceria pelo Público e The European Strategy Forum (ESF), que se realizou no passado dia 24 em Lisboa, e que teve como principais oradores Peter Ludlow, dirigente do ESF, e Jorge Vasconcelos, presidente da Newes, cujas intervenções podem ser vistas aqui.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Individualismo – entre agência e contingência
Demorámos séculos a ultrapassar a ideia de que o ser humano não é apenas um joguete ao serviço da transcendência. Lamento que tenhamos de passar outros tantos até percebermos que o indivíduo é um fim em si mesmo e não um joguete ao serviço da comunidade, dos outros ou da sociedade. (Lourencinho, aqui )
A afirmação acima transcrita, à primeira vista, parece inatacável. Da mesma forma que todos nós – ou quase todos – rejeitamos a ideia de que o indivíduo está ao serviço de uma qualquer transcendência, deveríamos rejeitar também a sua sujeição a quaisquer interesses supostamente superiores da comunidade ou sociedade. Todavia, creio, está nela implícita uma analogia falaciosa entre transcendência e sociedade. É que, enquanto a transcendência, por definição, é algo que ultrapassa a experiência humana, a sociedade é algo que faz parte dessa mesma experiência – tem, por assim dizer, uma existência fáctica ou fenomenológica.
O problema da libertação do indivíduo do jugo da transcendência é, pois, substancialmente diferente daquele que está em causa na relação entre indivíduo e sociedade. E isto é algo que o pensamento individualista (neo)liberal se tem esforçado por ignorar, ao sustentar a perspectiva atomista de que a sociedade não é mais do que o agregado das escolhas individuais. Para tal, serviu-se de uma construção teórica (o mercado) – em torno da qual se desenvolveu uma disciplina científica (a economia) – que resolve o problema da sociedade negando a existência autónoma desta. Do livre confronto dos desejos dos indivíduos no mercado resultaria espontaneamente o bem comum da sociedade. Ora, estes indivíduos que a ciência económica considera não são seres concretos, imersos num determinado contexto social ou cultural – são abstracções colocadas numa situação hipotética de igualdade formal, fazendo tábua rasa de relações de poder pré-existentes. Na realidade, contudo, os desejos individuais são co-determinados a priori, antes de se manifestarem no mercado, tanto pelas desigualdades naturais entre os seres humanos (inevitáveis), como pela forma de organização social prevalecente.
Este individualismo (neo)liberal, que tem o seu corolário no individualismo metodológico da economia (neo)clássica, funda-se, portanto, na ilusão da ausência de contingência, na ideia absurda de que a agência humana individual actua no vazio. Significa isto que devemos abdicar do princípio individualista? Não necessariamente. Há é que conceber um individualismo que encontre o equilíbrio entre agência e contingência – e esse não é certamente o dos (neo)liberais.
Espero voltar a este tema na próxima semana.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Globe Game
Se ainda confundem os Congos ou não distinguem a bandeira do Sri Lanka da da Birmânia, este é o jogo ideal!
Aqui fica o site:
www.friv.com (o globe game é 0 13º quadradinho na 7ª fila)
De referir que o jogo poderá tornar-se viciante...
Divirtam-se e bom resto de S. João!
O Irão e a sua lista

O Irão continua tumultuoso. Os manifestantes, mesmo com as ameaças de “consequências” que o líder espiritual fez nos últimos dias ao declarar as demonstrações ilegais e ao recusar-se a novas eleições, continuam com vigor a mostrar o seu descontentamento. A novidade noticiada pela CNN é a participação de clérigos, os mullahs, nestas demonstrações:
É um claro sinal de desafio à autoridade do Ayatollah iraniano e um abanão à aparentemente sólida teocracia do Médio Oriente. Imutável parece continuar a posição dos líderes do país, que iniciaram recentemente uma guerra diplomática com o Ocidente, com contornos de diversão, pelo que me parece.
O Reino Unido viu-se obrigado a expulsar do país dois diplomatas iranianos e a chamar a Londres os seus homólogos de Teerão, depois das acusações de ingerência e incitação à desordem de que Inglaterra foi alvo – aliás, a própria BBC foi apontada como entidade que promoveu estes desacatos. Mais, a CIA foi já incluída nesta lista, o que obrigou, obviamente, a uma crítica de Obama, que considera a referência de “falsa e absurda”.
Com ou sem ligações a este conflito, os EUA estão já a pensar em reenviar um embaixador para a Síria, retomando as relações com este país, cortdas há já quatro anos aquando da morte do antigo Primeiro Ministro libanês, Rafik Ariri. Há quem diga que é uma aproximação inocente, pelo bem da harmonia internacional; há quem os acuse de interesse e de forma de enfraquecer o regime iraniano, através de uma aproximação à Síria.
Realmente, esta é mais uma questão que nos impede de ser maniqueísta – Irão e Estados Unidos, cada um puxa a brasa à sua sardinha: e viva o S. João!