Como o André muito bem sublinha no seu texto sobre terrorismo e identidade, não existe uma definição unívoca e consensualmente aceite de terrorismo. E não é de estranhar que assim seja. Afinal, a própria raiz do termo - o terror - é uma pura abstracção, aberta a todas as interpretações. No entanto, apesar desta indefinição quanto ao significado do conceito, estabeleceu-se um claro padrão na sua utilização mediática e não só: certas entidades e acções são comummente designadas de terroristas, enquanto outras, mesmo produzindo efeitos semelhantes, o não são.
Os resultados do relatório oficial das Nações Unidas sobre a última ofensiva israelita na Faixa de Gaza permitem expor claramente esta dualidade na aplicação do conceito. O aspecto mais relevante do relatório é o facto de examinar um conflito entre um estado soberano, Israel, e um movimento dito terrorista, o Hamas. Concluiu-se que ambos os lados cometeram crimes de guerra e crimes contra a humanidade. O Hamas lançou rockets sobre civis israelitas. O exército de Israel bombardeou mesquitas e hospitais. A diferença entre as entidades em confronto justifica que as acções de uma sejam consideradas terroristas e as da outra não?
No fundo, o emprego dos termos terrorismo e terrorista diz muito mais sobre quem os utiliza do que sobre a realidade que se pretende retratar.
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