O anúncio norte-coreano, em missiva verbalmente musculada enviada ao Conselho de Segurança da ONU, de que havia entrado na fase terminal do processo de enriquecimento de urânio soltou algumas ondas de choque pela comunidade internacional. Nada, porém, que estivesse fora das previsões, tendo em conta certos desenvolvimentos recentes já aqui analisados pela Marília Cunha. Ora, é compreensível a preocupação dos vizinhos sul-coreanos e do Japão, mas um maior distanciamento leva-nos a concluir que a situação, se bem que preocupante, não é exactamente alarmante.
Quase meio século de Guerra Fria terá servido para nos demonstrar que armas nucleares nas mãos de estados rivais não são para ser utilizadas. Ou melhor, são para ser utilizadas, mas não literalmente. O que a Coreia do Norte procura com estas especulações em torno do seu programa nuclear é ganhar alguma margem de manobra na mesa de negociações, em face das sanções que lhe foram aplicadas pela comunidade internacional. Isto indica que os efeitos das sanções estão a fazer-se sentir – muito certamente, com consequências humanitárias gravíssimas –, pelo que este anúncio de Pyongyang é mais um sinal de fraqueza do que propriamente de força. É que, por muito pouco que se saiba acerca dos líderes norte-coreanos, o seu comportamento não indicia que sejam psicopatas com tendências suicidárias, mas sim déspotas que querem preservar o poder a todo o custo. Nesse sentido, creio que o nuclear só poderá ser encarado como uma arma diplomática.
Perante este cenário, apresentam-se três alternativas. A primeira – péssima – seria tomada por aqueles que, dormindo descansados com a quantidade de estados soberanos que hoje possuem armas nucleares (Estados Unidos, Rússia, China, Paquistão, Israel, Índia, etc.), não toleram sequer a hipótese de a Coreia do Norte as possuir. A solução seria, pois, a eliminação, pela força, do actual regime norte-coreano. Tal opção teria consequências imprevisíveis – e se a Coreia do Norte possuir, já hoje, capacidade militar nuclear? – e outras previsivelmente drásticas: mais uma experiência, análoga ao Iraque e ao Afeganistão, de construção da “democracia” a partir do grau zero da destruição. A segunda alternativa veria no desmantelamento do programa nuclear norte-coreano não um fim em si, mas um meio para algo mais ambicioso: a integração da Coreia do Norte na comunidade internacional. Nessa perspectiva, o caminho teria de passar por um levantamento gradual das sanções, sujeito à apresentação de “sinais” favoráveis da parte de Pyongyang. Esta seria certamente a opção que mais depressa aliviaria as condições humanitárias no interior da Coreia do Norte. Contudo, tendo em conta a natureza do regime, parece-me irrealista. Resta-nos uma terceira hipótese: a tentativa de desmantelamento, sem mais ambições integradoras, pela via diplomática. O sucesso não estaria garantido à partida, a paciência e a subtileza no reforçar ou afrouxar das sanções seriam a chave de um processo necessariamente moroso, mas, tudo somado, esta alternativa parece ser mais prometedora. Estará o Conselho de Segurança à altura?
Quase meio século de Guerra Fria terá servido para nos demonstrar que armas nucleares nas mãos de estados rivais não são para ser utilizadas. Ou melhor, são para ser utilizadas, mas não literalmente. O que a Coreia do Norte procura com estas especulações em torno do seu programa nuclear é ganhar alguma margem de manobra na mesa de negociações, em face das sanções que lhe foram aplicadas pela comunidade internacional. Isto indica que os efeitos das sanções estão a fazer-se sentir – muito certamente, com consequências humanitárias gravíssimas –, pelo que este anúncio de Pyongyang é mais um sinal de fraqueza do que propriamente de força. É que, por muito pouco que se saiba acerca dos líderes norte-coreanos, o seu comportamento não indicia que sejam psicopatas com tendências suicidárias, mas sim déspotas que querem preservar o poder a todo o custo. Nesse sentido, creio que o nuclear só poderá ser encarado como uma arma diplomática.
Perante este cenário, apresentam-se três alternativas. A primeira – péssima – seria tomada por aqueles que, dormindo descansados com a quantidade de estados soberanos que hoje possuem armas nucleares (Estados Unidos, Rússia, China, Paquistão, Israel, Índia, etc.), não toleram sequer a hipótese de a Coreia do Norte as possuir. A solução seria, pois, a eliminação, pela força, do actual regime norte-coreano. Tal opção teria consequências imprevisíveis – e se a Coreia do Norte possuir, já hoje, capacidade militar nuclear? – e outras previsivelmente drásticas: mais uma experiência, análoga ao Iraque e ao Afeganistão, de construção da “democracia” a partir do grau zero da destruição. A segunda alternativa veria no desmantelamento do programa nuclear norte-coreano não um fim em si, mas um meio para algo mais ambicioso: a integração da Coreia do Norte na comunidade internacional. Nessa perspectiva, o caminho teria de passar por um levantamento gradual das sanções, sujeito à apresentação de “sinais” favoráveis da parte de Pyongyang. Esta seria certamente a opção que mais depressa aliviaria as condições humanitárias no interior da Coreia do Norte. Contudo, tendo em conta a natureza do regime, parece-me irrealista. Resta-nos uma terceira hipótese: a tentativa de desmantelamento, sem mais ambições integradoras, pela via diplomática. O sucesso não estaria garantido à partida, a paciência e a subtileza no reforçar ou afrouxar das sanções seriam a chave de um processo necessariamente moroso, mas, tudo somado, esta alternativa parece ser mais prometedora. Estará o Conselho de Segurança à altura?
Sem comentários:
Enviar um comentário