Em comentário ao meu artigo anterior, o Diogo Lourenço alertou para um aspecto importante. Quando designamos uma certa corrente política, muitas vezes recorremos a etiquetas de uso comum que são muito menos óbvias do que parecem. E de facto, o termo “neoconservador” é um caso flagrante disso mesmo.
Aqui, subscrevo na íntegra a reflexão de Tzvetan Todorov no seu conjunto de ensaios sobre A Nova Desordem Mundial (Asa, 2006): na verdade, os “neoconservadores” são tudo menos “conservadores”. Passo a citar:
«Porém, o termo «conservador» não tem aqui qualquer cabimento, como aliás observou um deles: «Os neoconservadores não pretendem de modo algum defender a ordem das coisas tal como existe, assente na hierarquia, na tradição e numa visão pessimista da natureza humana» (Francis Fukuyama, no Wall Street Journal de 24 de Dezembro de 2002). Esses pensadores acreditam na possibilidade de aperfeiçoar de modo radical o homem e a sociedade e estão activamente empenhados nesse processo. Mas neste caso não merecem o epíteto de conservadores (…). Uma expressão mais justa para os designar seria neofundamentalistas: fundamentalistas porque se reclamam de um Bem absoluto que querem impor a todos; e neo porque esse Bem é constituído já não por Deus, mas pelos valores da democracia liberal.
Nenhum destes dois ingredientes é verdadeiramente novo; em contrapartida, a sua combinação é inédita. Os fundamentalistas acreditam nos valores absolutos, pelo que rejeitam o relativismo envolvente (…). Não obstante, não sendo conservadores, querem propagar o seu ideal no mundo pela força. Desta perspectiva, é sobretudo o espírito da «revolução permanente» que evocam. Há que buscar as origens desta vertente do seu pensamento na esquerda revolucionária anti-estalinista. (…)
O pensamento que anima este aspecto da política externa americana não é, pois, conservador, do mesmo modo que não é liberal (na medida em que se impõe a unidade em lugar de deixar subsistir a diversidade).»
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