terça-feira, 20 de outubro de 2009

Para onde vao as tribos?

Quando um dia tive a oportunidade de conhecer um queniano que exerce funcoes na politica, surgiu o interesse, no decorrer da conversa, em saber quais sao afinal as orientacoes politicas maioritarias entre os cidadaos deste pais. Com isto referia-me ao espectro que vai da esquerda para a direita (ou vice-versa) e aos seus respectivos clusters. Nao sendo suficiente, tive ainda que lhe mencionar "socialismo" e "capitalismo" para perceber exactamente do que estava a falar. Um comeco so por si denunciador.
E que num pais como o Quenia as preferencias do eleitorado sao definidas mais por uma certa solidariedade para com o lider em questao, uma ascendencia sagrada em comum, do que por uma ideologia concreta e o compromisso para mudancas radicais. Esta tradicao conservadora e por isso bem mais expressiva atraves de comportamentos e accoes do que por obras, textos e pensadores de referencia.
Claro que se podera identificar qual dos dois, Odinga e Kibaki, seguira versoes mais a esquerda ou a direita. No entanto, excluindo alguns intelectuais e academicos, aqueles que apoiam Raila Odinga nao sao os desafortunados do Quenia, mas antes os seus "compatriotas" etnicos, os Luo, independentemente da sua classe social.
De facto, o tribalismo e um fenomeno cumulatorio de atitudes especificas atraves de geracoes. E, como consequencia, e quase por definicao colectivista. Por isso, este conservadorismo tribal africano e um corpo pensante em continuo consenso, ligando o passado com o presente e o futuro.



Aproveitem para estar a par da minha lista negra http://listanoire.blogspot.com/

1 comentário:

  1. As categorias políticas a que estamos habituados aplicam-se mal a contextos diferentes. No entanto, pelo menos em teoria, não deixo de pensar que é possível existir um tribalismo que vá para além do étnico e adquira uma dimensão propriamente política, no sentido mais radical do termo.

    Segundo Jacques Rancière, a política é um fenómeno que apareceu pela primeira vez na Grécia Antiga, quando um grupo social particular (o «demos»), em de vez de protestar apenas contra a sua exclusão do espaço público, contra as injustiças específicas de que era alvo, se assumiu como o representante do Todo social, como «o povo» que se opunha a todos os outros que mais não queriam que satisfazer os seus interesses particulares. A politização nasce desse momento paradoxal em que é possível articular um discurso universal através de uma posição singular, em que «a parte dos sem-parte» (Rancière) se transforma na voz do Todo.

    Um tribalismo emancipador (de esquerda, se quisermos) poderia, pois, nascer se uma dada tribo marginalizada fosse capaz de universalizar as suas exigências, de falar já não em seu nome, mas em nome de todos. A questão é se continuaria, a partir desse momento, a ser uma tribo...

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