quarta-feira, 1 de julho de 2009

Irão - a saga continua

A oposição a Ahmadinejad continua relativamente firme, apesar de algumas semanas terem já passado desde as polémicas eleições de 12 de Junho – intransigentes continua o Governo e o Conselho dos Guardiães, que não abrem mão do resultado, assim como Mousavi e a sua claque também não abrem mão dos protestos e insistem em chamar a atenção da comunidade internacional, apesar das tentativas do governo de controlar a situação – censura, proibição de entrada de meios de comunicação estrangeiros, repressões violentas e, mais recentemente, a acusação de ingerência das potências ocidentais neste assunto interno do Irão.


Efectivamente, Neda tornou-se um símbolo: um símbolo que a oposição usa para incarnar a sua luta contra a alegada injusta eleição do já Presidente iraniano, mas, simultaneamente, a jovem estudante de Filosofia (cuja idade varia entre os 16 e os 27 anos, como diferem as fontes) tornou-se no exemplo que as autoridades oficiais agora usam para comprovar a presença de forças estrangeiras no país: Ahmadinejad exige que se apurem responsabilidades, testemunhas (hesitei em pôr o termo entre aspas, mas ficam aqui as minhas reticências) garantem que não havia forças policiais no local do crime, supostos relatórios explicam que as balas não são as usadas pela polícia iraniana,… Ou seja, quer isto dizer que alguém de fora esteve implicado: a CIA aparece em primeiro lugar; a Grã-Bretanha vem em segundo. O Embaixador do Irão no México acusa a CIA de estar envolvida e Ahmadinejad garante:
"The massive propaganda of the foreign media, as well as other evidence, proves the interference of the enemies of the Iranian nation who want to take political advantage and darken the pure face of the Islamic republic”

As tensões diplomáticas vão crescendo no entretanto. Elementos da Embaixada inglesa no Irão são detidos, porque acusados de envolvimentos nos distúrbios, e Brown não se conforma com tal exagero iraniano, que considera inaceitável e injustificável, como o próprio adjectiva.

As razões apresentadas pelo ministro iraniano Gholam-Hosein Mohseni Ejei são, no mínimo, discutíveis: “The fact that Iran is stable, calm and secure, they're upset with this,". O facto é que os europeus, cuja “total solidariedade” foi reconhecida pelo Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, olham com desconfiança para a política ofensiva de Teerão. Este desapontamento de que falam vários Ministros dos Negócios Estrangeiros (MNE) culminou, muito recentemente, com o fim das conversações que a UE desenvolvia com o Irão para que este abandonasse as suas pretensões nucleares há já alguns anos, por imposição deste último. Ahmadinejad soube, de forma magistral, utilizar esta desconfiança de ingerência para terminar com estas incómodas conversações que queriam limitar as suas actividades nucleares (mesmo apesar da inflexibilidade que o Irão tinha vindo a mostrar).

Agora, os MNE da UE ponderam a retirada dos seus representantes diplomáticos do país. Custa-me a crer que tal venha a concretizar-se, mas a verdade é que, usando esta situação a seu favor, Ahmadinejad está a conseguir consolidar o seu poder e a vincar a sua posição no contexto internacional, mesmo que optando por esta escalada da tensão diplomática e pelo isolacionismo. Aguardemos.

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